Narciso e Eco - Mitologia
Pelas terras da Beócia, corriam as águas do rio Cefiso, deus fluvial, aquele que banha, inunda. Às suas margens, nenhuma ninfa podia andar em segurança, pois o insaciável Cefiso, tão logo as via, tratava de envolvê-las em sua torrente. Assim aconteceu com a bela ninfa Liríope, que significa voz macia. Num dia de verão, ela passeava despreocupada junto ao rio, quando as águas se ergueram, enlaçaram-na num abraço invencível e possuíram-na com repentina paixão. Durante meses, Liríope carregou dentro de si o fruto daquele amor indesejado. Sua vida, antes tão feliz e tranqüila, era agora feita de tristeza e cansaço, de lamentos apenas murmurados pelas sombras dos bosques. Entretanto, quando o seu filho nasceu, o rosto de Liríope voltou a se iluminar de intensa alegria.

O menino, que recebeu o nome de Narciso, era belo e gracioso. Ansiosa por saber se Narciso viveria muitos anos, a jovem procurou o cego Tirésias, adivinho cuja fama começava então, a ultrapassar as fronteiras da Beócia. Sim, ele terá longa vida, respondeu-lhe o cego, na condição de jamais ver sua própria imagem.

Condenado a não ver sua própria imagem, os anos se passaram e ele tornou-se um adolescente muito belo, arrogante e desdenhoso por suas qualidades. Começam as paixões pelo filho de Céfiso, muitas o desejavam, capturadas por sua beleza. Porém, Narciso não se rendeu a nenhuma dessas paixões, ficando indiferente.


Dentre elas, havia uma em especial: a Ninfa Eco que havia regressado do Olimpo após a vingança de Hera, esposa de Zeus. Eles viviam em discórdias conjugais, pois Zeus era libertino, promíscuo e infiel. Em obediência ao grande Zeus, Eco havia enganado Hera, enquanto ele a traía. Ao descobrir isto, Hera ficou extremamente humilhada com as aventuras de Zeus. Ele desonrou o que ela considerava de mais sagrado: o matrimônio. Então, Hera condenou Eco a não mais falar, limitando-a a repetir os últimos sons das palavras que ouvisse. Amaldiçoada, Eco foi compelida a nunca mais se expressar, replicando as vozes que não as suas.

Certo dia, Narciso estava no bosque e Eco, amante das aventuras campestres, o viu, encantou-se com sua beleza e o seguiu. Ele ficou perdido e foi surpreendido pelo barulho dos passos de alguém, gritou e discorreu a seguinte situação:

Narciso: Há alguém por perto?

Eco : Há alguém.

Narciso: Vem!

Eco: Vem!

Narciso: Por que foges de mim?

Eco: Por que foges de mim?

Narciso: Vamos ficar juntos aqui!

Eco: Juntos aqui! (Disse Eco ao sair de seu esconderijo, correndo em direção a Narciso.)

Mas ele era frio, insensível e a repeliu empurrando-a violentamente. “Morrerei antes que você se deite comigo!”, gritou ele, fugindo dela.
Comigo..., suplicou Eco.

Narciso se fora e ela, envergonhada pela rejeição, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos nas montanhas, sofrendo pela indiferença do rapaz. Motivada pela desilusão, começou a definhar. O desgosto por um amor não correspondido pode mesmo fazer trazer com que o apaixonado deixe de se alimentar. Eco, frustrada, comete o vagaroso suicídio anoréxico, até que só resta um fio de sua melancólica voz.


As demais ninfas, revoltadas com a insensibilidade de Narciso, pediram vingança à deusa Nêmesis, Deusa da Justiça. Em certa caçada, ávido por água, ele foi até o lago e observou uma sombra e ao olhá-la, ficou enfeitiçado com sua imagem e dali não saiu mais até sua morte, desgostoso com a impossibilidade de consumir sua paixão.

O mandato cumpriu-se e ele não conseguiu jamais alcançar a união amorosa com o objeto pelo qual se apaixonou. Ali ficou até sua morte e, quando procuraram seu corpo, encontraram apenas uma flor amarela, solitária e estéril - Narciso.

O Mito de Narciso e Eco permite uma interpretação sobre a estranheza da estrutura narcísica. Trata-se da dialética da morte, Narciso morre na ilusão de ter encontrado a completude.
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